Este animal se chama Chrysocyon brachyurus que quer dizer “animal dourado de cauda curta”. É chamado Guará porque em tupi-guarani, a língua dos indígenas, guará significa “vermelho”. Tem o corpo todo dourado; as patas e os pelos da nuca pretos; a cauda, o papo e um pouco do rosto brancos. É branco também o pavilhão das orelhas, que se movimentam como um radar, captando todos os sons e movimentos.

É o maior canídeo da América do Sul, sendo encontrado desde o sul da Amazônia até o Uruguai, excetuando-se o litoral, os picos de altitude e a Mata Atlântica. É canídeo, ou seja, da família do cachorro, do cachorro-do-mato, do coiote, do chacal, da raposa e do lobo europeu, estadunidense e canadense, o Canis lupus. E é o maior canídeo da América do Sul porque a fêmea mede 90cm e o macho, 95cm, aproximadamente. E da ponta do focinho até a ponta do rabo, 1,45m.

Foto: Eduardo Franco
Foto: Eduardo Franco

Suas patas são altas para facilitar seu movimento nos campos, já que é um animal do Cerrado. O Chrysocyon brachyurusnão é animal das matas fechadas, é um animal campestre, andando em estradas e em trilhas e onde há campos com baixa vegetação. Por sinal, quem for andar para o Banho do Belchior, Pinheiros, Tanque Grande, Prainha, Cascatinha e Bocaina poderá ver com muita facilidade as pegadas do lobo guará nas trilhas. São quatro dedos, sendo que os dois do meio são um pouco mais juntos, almofada e garras.

Estima-se que a espécie do Chrysocyon brachyurus vive 16 anos, pesa em média 25kg e anda 30Km por noite caçando. É um animal de hábitos noturnos, mais ágil ao entardecer e ao amanhecer. Durante o dia fica descansando sobre a relva, deitando-se cada dia em um lugar. Não fica em tocas.

Chrysocyon brachyurus é onívoro: come de tudo. Come pequenos animais e aves. Ele continua caçando, independente da comida que nós oferecemos a ele. Esta comida não o deixa dependente dos padres. Dos pequenos animais, ele come rato, gambá, coelho, coelho-do-mato, preá, cobra, sapo; das aves, come jacu (Penelope obscura e P. Superciliaris), saracura e outras. Por sinal, precisa dos pelos dos animais e das penas das aves para facilitar os movimentos peristálticos, da digestão. Come também frutas, como a fruta-do-lobo ou lobeira (Solanum lycocarpum), pêssego, maracujá, goiaba, etc. Além disso, é atraído por cheiros fortes, como o de frutas e comida apodrecendo, motivo pelo qual costuma revirar as lixeiras.

O Guará tem hábitos solitários; não vive em alcatéia, em grupo, como o Canis lupus. Também não uiva, ele late. Aqui no Caraça, nós temos apenas um casal de lobos. Não cabem mais, porque são territorialistas, demarcando todo o território com a urina. O casal precisa de 2.500 hectares (2.500 campos de futebol). É mais ou menos o que temos aqui no Caraça de Cerrado. Nossa propriedade mede 11.233 hectares, mas não podemos contar, para o lobo, a Mata Atlântica e os picos de altitude. É animal do Cerrado.
(Foto: Eduardo Franco)

O acasalamento se dá em abril e maio. Sabemos disso porque o tempo do acasalamento é quando o macho e a fêmea começam a andar juntos. Inclusive sobem até a Igreja e comem juntos na bandeja. A gestação é de 62-65 dias. Os filhotes, de 1 a 3, nascem cinza escuro e são colocados em buracos, às vezes de cupinzeiros, para ficar mais protegidos. Por 2-3 meses, são alimentados pelos pais, que regurgitam o alimento para eles. Depois começam a fazer pequenas caminhadas com a fêmea, geralmente, até que no 5º-6º mês começam a aprender a caçar e, no Caraça, começam a aprender a subir as escadas da Igreja. Uma fêmea já foi vista empurrando com o focinho um filhote escada acima.

Quando chegam a 1 ano, à maturidade sexual, é como se perdessem a relação de parentesco e ficassem a ter apenas relação de gênero. Aí precisam disputar o território. Os machos lutam entre si e as fêmeas lutam entre si. Os que vencem dominam o território e expulsam os demais, que vão procurar outros campos de cerrado para sobreviver. O filhote pode acasalar com a mãe, o irmão com a irmã, se forem o casal vencedor nas disputas pelo território.

Na noite em que mais se viram lobos aqui no Caraça foi quando apareceram cinco: três filhotes comendo na bandeja, a fêmea vigiando no alto da escada e o macho urinando nas palmeiras, demarcando o território. Por causa do que o Caraça faz e de outras instituições que divulgam a convivência pacífica com o lobo-guará, ele não está mais na lista dos animais ameaçados de extinção. Está na lista dos animais vulneráveis, lista ainda perigosa, mas não mais ameaçado de extinção.

Esta tradição começou no Caraça em maio de 1982, quando algumas lixeiras começaram a aparecer reviradas e derrubadas. O Irmão Thomaz, que vive hoje em Belo Horizonte, falou ao Padre Tobias, superior de então, que devia ser cachorro. Padre Tobias achou muito difícil, porque cachorro não subiria a serra com tanta freqüência. Começaram a observar e descobriram que o grande cachorro que revirava as lixeiras do Santuário do Caraça era o Chrysocyon brachyurus.
Aí começaram a colocar uma bandeja de carne em cada portão e elas amanheciam mexidas. Foram aproximando as bandejas da escada da Igreja e por algum tempo os lobos foram alimentados lá embaixo. Até que resolveram subir com a bandeja. A bandeja subiu, o padre subiu, o lobo subiu!

Essa prática de alimentar os lobos no Caraça só persiste aos dias atuais porque o seu hábito de caça não foi comprometido. Por este motivo o lobo-guará não tem hora de aparecer. O momento de esperar a aparição do animal é conhecida como “a hora do lobo”, a partir das 18h30min. Enquanto o seu lobo não vem, o Caraça proporciona aos hóspedes o momento da informação, a educação ambiental.

Foto: Eduardo Franco
Foto: Eduardo Franco

Fotos: Eduardo Franco

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